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MANIFESTO COSEMS RJ

Rio de Janeiro 07/06/2020

O Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado do Rio de Janeiro (Cosems RJ), entidade que congrega os 92 gestores municipais fluminenses, vem se pronunciar sobre a decisão do Ministério da Saúde de fazer a recontagem do número de casos e de mortos por Covid-19, manifestação expressada no último dia 06 de junho de 2020, pelo empresário Carlos Wizard, atual secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde.

Na oportunidade, Carlos Wizard, acusou estados e municípios de inflar os números para “conseguir mais recursos públicos federais”, em uma covarde justificativa para as constatadas manobras, nos últimos dias, do governo brasileiro para dificultar o acesso à informação relativa aos casos da Covid-19 no Brasil.

Tais atitudes se assemelham às práticas de censura registradas em outros países identificados como tendo regimes mais autoritários do mundo, indo na contramão da quase totalidade de governos democráticos.

Consideramos o acesso à informação como sendo um dos pilares da resposta a uma pandemia e, pelos preceitos da OMS, o governo brasileiro deve submeter o número de novos casos registrados em detalhes, situação que não tem sido constatada nos últimos dias. O Ministério da Saúde retirou do ar toda informação sobre os dados da covid-19, numa atitude autoritária, antisanitária e antidemocrática, criando um clima de insegurança, pânico e de total desrespeito à população em geral, às pessoas vítimas da pandemia e aos profissionais.

Neste momento em que o país está prestes a se tornar o epicentro da pandemia, nos solidarizamos com a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), com o Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde – CONASS, COSEMS SP e com a população brasileira que repudiam a falta de transparência do Ministério da Saúde na divulgação de dados confirmados e de óbitos por COVID-19 no país.

Além disso, deixamos muito claro, diante desta tragédia sanitária que assola a todos, que o Sistema Único de Saúde foi criado sobre pilares de relações interfederativas solidárias e humanitárias e, falar de saúde é falar da vida!

Enganam-se os gestores federais quando interpretam o cuidado à saúde e à vida como atos de oportunismo e violência. O subfinanciamento e agora o desfinanciamento submetido ao SUS é violência, a pobreza é violência, o abandono de brasileiros nas calçadas é violência, brasileiros enterrados em covas rasas é violência.

Nós, gestores municipais, que sentimos em nosso cotidiano o sofrimento das famílias pela perda de seus entes queridos, não podemos concordar com autoridades que debocham de quem observa os protocolos de prevenção à pandemia, de quem segue incansavelmente a obrigação por manter dados e informações fiéis à realidade e de cuidar incansavelmente de nossa população no município, que é onde as ações em saúde se dão.

Repudiamos manifestações autoritárias, insensíveis, desumanas e antiéticas, que vulgarizam a vida e enterram novamente os mais de 30 mil mortos e suas famílias e, concomitantemente, tentam, de maneira irresponsável, enterrar nossa seriedade profissional e nossa incansável batalha sanitária de acolher e cuidar do sofrimento dos pacientes e de seus familiares com dignidade e humanismo.